Outubro foi um mês em que as ruas protagonizaram e testemunharam mudanças no país. Teve manifestação do #elenão, do #elesim, teve panfletagem, teve megafone, teve bandeira, teve pixação, teve agressão, teve morte. Levamos para a rua o conflito que borbulhava nas redes sociais. Não é de hoje: desde 2013 tem sido assim. E focados nesse conflito – com razão, há de se dizer –, não pensamos no porquê da rua. Por que fomos para a rua? E por que temos (e estamos com) medo dela?
Sempre falamos aqui no Formiga-me que o espaço público é um lugar de conflito. E talvez por isso a gente tenha medo dele: é mais tranquilo ficar na nossa bolha, na nossa zona de conforto, com quem e o que a gente conhece. Na cidade grande, crescemos com medo das ruas. É um lugar onde temos que ceder ao outro, onde nos deparamos com a profunda diferença, onde estamos cercados de tensão e cuidados, onde temos medo de perder.
Temor que se retroalimenta
Esse medo não é sem alguma razão, sabemos disso. Ao mesmo tempo, nosso temor se retroalimenta. Quanto mais tememos, pior nos sentimos em um espaço de diferenças. A rua é, portanto, também um antídoto. Por isso, quanto mais nos expusermos às diferenças, ao conflito, mais correremos riscos, sim, mas também mais nos fortaleceremos e nos sentiremos seguros.
Essa segurança é fundamental no cenário pós-eleições. Já defendemos aqui que pequenas ações e ativismos são fundamentais, nos posicionando contra o anúncio do fim dos ativismos feita por Bolsonaro. Não tenhamos medo de continuar indo para as ruas e existir nelas, como somos, com nossas ideias e projetos. Abertos ao outro e suas ideias e projetos.
Agora é, mais do que nunca, hora de estabelecer esse diálogo. De encarar o conflito para dissolvê-lo. De encontrar um meio termo. De não alimentar uma cultura de pânico. Pois se recuarmos, os intolerantes sentirão o cheiro do medo e avançarão. Se eles têm medo das diferenças, nós as amamos. Não recuaremos. Juntos somos fortes, pequenos somos importantes.