Imagine poder colocar o pé direito na Praça da Sé, a mão esquerda na Ocupação 9 de Julho, a mão direita no Samba do Bixiga e o pé esquerdo na Virada Cultural. Movimentos impossíveis na vida real viram realidade no Tuíster da Cidade, um jogo gigante sobre os patrimônios do centro de São Paulo. A brincadeira acontece em uma lona de 3 por 4 metros. Nela, está impresso um mapa com mais de 100 bolinhas coloridas que mapeiam os bens culturais dessa região. A ideia é explorar a cidade de um jeito totalmente diferente – e divertido.
O projeto foi criado por Paula Dias, Ricardo Sylos e eu, Fernanda Carpegiani, a partir do curso A cidade como experiência: território nômade, coordenado pela professora e artista Lilian Amaral. Primeiro, fizemos um piloto do Tuíster na Jornada do Patrimônio, em agosto de 2018. Foram duas apresentações do jogo, uma na Praça da Vila Buarque (oficialmente Praça Rotary) e outra na Praça Dom José Gaspar.
Em seguida, jogamos na Ocupação 9 de Julho, durante a Virada Sustentável. Também participamos do IV Seminário Internacional: formação de educadores em arte e pedagogia da Universidade Presbiteriana Mackenzie. A última rodada do Tuíster da Cidade rolou no evento oficial de aniversário de São Paulo, com apoio do Departamento de Patrimônio Histórico (DPH) e da Secretaria de Cultura da cidade. Veja como o jogo funciona na prática!
Brincar para repensar a cidade
Na versão paulistana do jogo Twister, o corpo vira ferramenta para conhecer e reconhecer os diferentes bens culturais da cidade. A roleta indica onde colocar os pés e as mãos. Assim, a cada giro o jogador se desloca pelo tapete (e pela cidade), pulando de um patrimônio para o outro. Cada cor de bolinha indica um tipo de patrimônio.
As bolinhas amarelas são patrimônios materiais, tais como edifícios, construções e monumentos. Já as azuis representam patrimônios imateriais, ou seja, tudo aquilo que compreende o imaginário, a cultura e a tradição de uma determinada população, como celebrações, comidas e costumes. Os pontos verdes são espaços públicos, praças, parques e outras áreas de encontro.
Por fim, as bolinhas vermelhas indicam os patrimônios em risco. Isto é, são locais que estão abandonados e ameaçados, ou ainda aqueles não reconhecidos pela população e pelo governo. Chamamos a atenção para esses lugares porque, acima de tudo, eles precisam de olhares e cuidados especiais.
“Muitas vezes a gente acaba interagindo com os patrimônios e espaços públicos da cidade de uma maneira muito superficial, sem entender aquele espaço, sua história, suas dinâmicas sociais. A proposta do Tuíster é que as pessoas possam desvendar os espaço onde elas vivem. Porque quando a gente não consegue identificar o que é nosso, a gente acaba perdendo o direito sobre aquilo.”
– Ricardo Sylos, integrante do Tuíster da Cidade
Jogar com os patrimônios no Tuíster da Cidade revela distâncias, barreiras urbanas, localização dos pontos e noções de grandeza. Depois de cada rodada, sentamos em roda para conversar sobre a experiência. Neste momento, aprofundamos os conhecimentos sobre os pontos visitados com os pés e as mãos. Quando o jogo acaba, fica a sensação de que o corpo e a mente estão mais conectados com a memória urbana. E mais dispostos a enxergar os bens preciosos que pertencem a todos nós.